O QUE FAZER COM OS R$ 44 DO SALÁRIO MÍNIMO?
O QUE FAZER COM OS R$ 44 DO SALÁRIO MÍNIMO?
Doze pacotes de um quilo de feijão, quatro quilos de pão francês. O que mais é possível comprar com o reajuste anunciado.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou ainda no dia 1º de janeiro o decreto que estabeleceu o salário mínimo para 2019 em R$ 998. O reajuste ficou abaixo do valor aprovado pelo Congresso no ano passado, de R$ 1.006, quando seria a primeira vez que o salário mínimo ficaria acima de R$ 1 mil. O aumento em relação a 2018, quando o valor era R$ 954, foi de R$ 44. A pergunta que não quer calar é: o que é possível comprar com a diferença do reajuste? A reportagem do Santa fez um levantamento de como o dinheiro pode ajudar na economia doméstica com itens básicos de consumo, como carne, arroz, feijão, leite, pão, gasolina e passagem de ônibus.
O salário mínimo serve como base para o rendimento de 48 milhões de trabalhadores em todo o país. Em Santa Catarina, vale o piso regional, com valores vigentes entre R$ 1.110 e R$ 1.271. No entanto, a cifra definida pelo governo é importante porque influencia em toda a cadeia de reajustes. O governo federal projeta que cada R$ 1 concedido de aumento deve gerar R$ 300 milhões ao ano nas contas da União.
A decisão do novo presidente divide opiniões entre os blumenauenses, em especial pela expectativa.
– É muito pouco. Primeiro falaram que o salário iria para R$ 1.006 e agora deram isso (R$ 988). Pelo menos ajuda a pagar uma semana a mais da passagem do ônibus – avalia a aposentada, Erondina Raulino, 56 anos.
Há também quem entenda o movimento do novo governo.
– Não acho que é um aumento significativo, mas no momento é o que o governo pode fazer. Tem que enxugar os gastos – diz a comerciante Edi Schoemherr, 57 anos.
O valor definido foi menor do que o esperado, porque o governo estima que a inflação feche o ano abaixo do previsto, que é de 4,30%. Outro fator que é levado em conta é o crescimento do PIB de 2017, que foi de 1%. Com isso, justifica-se a redução de R$ 8 em relação à expectativa projetada pela equipe de Michel Temer (MDB). Mesmo assim, o novo governo espera recuperar as perdas da inflação e garantir o poder de compra do contribuinte para ajudar a recuperar a economia, ainda que de maneira tímida.
Ano difícil para a economia do país
Para economistas procurados pela reportagem, o ano será difícil para o país. O professor de Economia da Furb, Jamis Paizza, avalia que o aumento deve fazer pouca diferença no orçamento familiar:
– Para quem precisa pagar contas de energia, água e principalmente o combustível, o reajuste não cobre, apenas repõe uma parcela da perda inflacionária. Os aposentados, que é a categoria que recebe esse aumento de maneira direta, em grande maioria ainda têm o gasto adicional com medicamentos, o que é bastante caro – afirma Piazza.
O economista Nazareno Schmoeller, professor da Furb, avalia que a redução no valor do salário mínimo é uma das formas encontradas pelo governo para conter gastos, mas defende que é necessário também cortar na própria carne, com redução dos custos da máquina pública.
– Uma das expectativas que se tem em torno do governo Bolsonaro é a recuperação econômica. Um dos meios de fazer isso é deixar o dinheiro girando, dando poder de compra para o trabalhador – pondera Schmoeller.
O que comprar?
Entre itens básicos de consumo, com os R$ 44 de reajuste do salário mínimo para 2019 é possível comprar em Blumenau:
✓ 2,3 kg de carne moída de primeira
✓ 3,4 kg de carne moída de segunda
✓ 22 caixas de leite integral de um litro
✓ 4 pacotes de cinco quilos de arroz branco tipo 1
✓ 12 pacotes de feijão preto de um quilo
✓ 4 kg de pão francês
✓ 10,75 litros de gasolina*
✓ 10 passagens de ônibus em Blumenau**
*Preço médio de R$ 4,09, conforme pesquisa da ANP feita em postos da cidade em 27/12/2018
**Considerado o valor inteiro da passagem no município, R$ 4,20.
Fonte: Pesquisa feita pela reportagem com alguns mercados e padarias.
FONTE:www.nsctotal.com.br/noticias
ENTENDA COMO É CALCULADO O VALOR DO
SALÁRIO MÍNIMO
Benefício passa de R$ 954 pago ao
longo de 2018 para R$ 998 neste ano
R$ 998. Esse é o valor do salário
mínimo para 2019 conforme decreto do presidente Jair Bolsonaro. O total
equivale a um reajuste de 4,61% sobre os R$ 954 vigentes em 2018. No entanto, o
total ficou R$ 8 abaixo dos R$
1.006 aprovados pelo Congresso Nacional em dezembro.
Na época, o governo Temer revisou
para cima o valor por conta das estimativas de inflação, que é um dos fatores
determinantes para fixar o salário mínimo. Pela regra a remuneração deve ser
calculada de acordo com inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor (INPC), mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB)
do ano retrasado ao do reajuste.
Ou seja, para este ano é somado o
PIB de 2017 (alta de 1%) mais o INPC de 2018 _ cuja variação ainda será
divulgada e, por isso, o governo usa uma previsão.
O economista e professor voluntário
da UFSC, João Rogério Sanson, analisa que o aumento do salário mínimo impacta,
principalmente, no setor previdenciário. O governo estima que para cada R$ 1 de
aumento há um incremento de R$ 300 milhões ao ano nas despesas federais.
— O número de pessoas que recebe
salário mínimo é grande na previdência. São muitos aposentados, servidores
públicos de prefeituras pequenas, no interior. É preciso lembrar que muitos
Estados tem salário mínimo regional, daí teria que ver de quanto será o aumento
— alerta.
Em Santa Catarina, por exemplo, há
o salário
minimo regional. No ano passado, os valores que vigoraram em 2018 foram
definidos ainda em janeiro. No Estado o salário mínimo é dividido em quatro
faixas.
Modelo de reajuste para 2020 será
definido
A fórmula de correção usada
atualmente pode ser aplicada pela última vez em 2019. Isso por que o modelo de
reajuste é definido pela lei
13.152, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff em julho de
2015. O atual presidente ainda não detalhou qual será a política adotada a
partir de 2020.
— Acreditamos que pode haver
pequenas modificações, mas será preciso aprovar uma nova lei. Na área econômica
se especula que o aumento da previdência, das aposentadorias, não fique mais
vinculado ao reajuste do salário mínimo. Se fala em reajuste apenas pela
inflação — analisa o economista.
O economista e mestre em Sociologia
Política, Eduardo Guerini, também analisa o cenário nesse sentido e pontua que
os impactos tendem a ser negativos. O especialista reforça que as propostas
ventiladas pelo atual governo giram em torno da desvinculação das
aposentadorias do salário mínimo.
Ou seja, o reajuste dos benefícios
previdenciários podem ter apenas a correção da inflação, sem aumento real, já
que não iriam mais acompanhar o aumento do salário mínimo.
— A queda do atual modelo pode
gerar um impacto muito forte. Uma possibilidade é termos um novo padrão de
negócios que pode levar a precarização e redução dos reajustes do salário
mínimo — alerta Guerini.
Entidades de SC analisam o aumento
A Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio-SC) analisa que o
reajuste do salário mínimo veio menor que o autorizado pelo Congresso, mas que
apesar disso, está alinhado com as expectativas de inflação e crescimento do
período. Bruno Breithaupt, presidente da entidade, pontua ainda que a pauta
será relevante para a equipe do novo presidente, já que a regra vigente expira
neste ano.
— O presidente terá que desenvolver
uma nova fórmula de reajuste até abril deste ano. A Fecomércio SC defende que o
cálculo deve levar em consideração o crescimento da produtividade da economia
brasileira de maneira a não criar pressões de custos e inflacionárias às
empresas brasileiras e assim, promover, o crescimento sustentado da economia —
analisa Breithaupt.
Já Ivan Tauffer, presidente da
Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de SC (FCDL/SC), que representa
mais de 40 mil associados no Estado, "a atualização do patamar é bem-vinda
pois aumenta poder de compra e isso ajuda a injetar mais dinheiro na
economia". Tauffer ainda pontua que "fato de ser esta a primeira
medida auxilia a prolongar o período de otimismo que temos observado".
Confira no gráfico a evolução do
valor do salário mínimo:
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